terça-feira, 13 de agosto de 2013

Os Sistemas Políticos e as Vacas


Até pouco tempo atrás, antes da sufocante onipresença das redes sociais, o e-mail era a principal forma de comunicação na internet. Todos os dias, ao abrir nossa correspondência eletrônica, nos deparávamos com todo tipo de mensagens, desde assuntos pessoais e de trabalho, até videos de pegadinhas, pornografia, propaganda e as famigeradas correntes, que ofereciam bençãos ou maldições conforme a disposição que o destinatário tivesse para encaminhar aquela mensagem a todos os contatos da sua lista.

O que muita gente da geração web não sabe é que tudo isso já existia muito antes da internet chegar ao Brasil. Certa vez, quando eu tinha uns 9 anos de idade, vi um papel dobrado, enfiado na caixa de correio da minha casa. Como bom menino curioso que era, fui investigar e descobri, para meu desgosto, um texto que dizia algo sobre eu ter que escrever 20 cartas como aquela e repassar a 20 pessoas diferentes, pois caso eu quebrasse a corrente, algo terrível me aconteceria. Obviamente, cumpri a missão e, desse dia em diante, nunca mais verifiquei o conteúdo da caixa de correio.

Da mesma forma, na escola , ou entre o pessoal do trabalho, sempre surgiam folhas de papel que continham textos datilografados de histórias engraçadas, piadas ou curiosidades. Quem é mais velho certamente se lembra dos "Refrigerantes Noku", que podiam ser apreciados em qualquer local e ocasião. "Tome Noku na praia, no campo e na cidade. Tome Noku de manhã, à tarde e à noite. Tome Noku a todo momento!", Dizia o texto.

Havia também a famosa notícia de que todos os documentos pessoais, como RG, CPF e Carteira de Habilitação, seriam substituídos por um único documento de porte obrigatório, o Cadastro Único, conhecido simplesmente pela sigla CU. "Quando for comprar no crediário não será mais necessário apresentar todos os seus documentos, apenas mostre o CU para o gerente da loja."

Um desses papéis que circulavam provocando risos, continha uma metáfora muito interessante sobre como é possível explicar os sistemas políticos usando apenas duas vacas. Existem algumas versões disso na internet, mas a folha de sulfite datilografada que chegou até mim há alguns anos, dizia mais ou menos o seguinte:

"Você tem duas vacas"

No Capitalismo:
Você vende uma delas, compra um touro, eles se reproduzem e você se torna um rico fazendeiro.

No Comunismo:
O governo toma uma das suas vacas e dá para o seu vizinho.

No Socialismo:
O governo toma suas duas vacas e te dá um pouco de leite todo mês.

No Anarquismo:
Você mata as vacas e faz um churrasco para a família e os amigos.

É claro que isso é uma simplificação grosseira, feita para tentar provocar risos. A complexidade das ideologias e sistemas políticos jamais poderia ser resumida a esse ponto. Entretanto, a lembrança dessa alegoria me ocorreu durante o período das manifestações, onde vi na internet e nas conversas nas rodas de amigos, todo tipo de opinião sobre o tal "despertar do gigante", com Esquerdistas e Direitistas tentando se sobressair e acusando o outro lado de oportunismo.

Toda esta efervescência política me levou a refletir sobre minha próprias ideias e opiniões. Em qual lado eu me encaixaria, uma vez que tenho pontos de vista congruentes e divergentes tanto com direita quanto com a esquerda?

Minhas pesquisas pela web acabaram me levando a um excelente texto postado no site Papo de Homem, que fala exatamente sobre o quanto essa dicotomia entre direita e esquerda está ultrapassada e como é possível ampliar esse espectro. O autor até apresenta um site em inglês, o Political Compass, onde através de algumas perguntas sobre questões políticas, sociais e econômicas, é possível descobrir em qual quadrante você está, uma vez que a teoria ali é de que o espectro político deve considerar duas retas perpendiculares: uma econômica, que vai do comunismo ao liberalismo e outra social, que vai do anarquismo ao fascismo.

Achei interessante como exercício de auto-conhecimento e recomendo principalmente para as pessoas que, como eu, acreditam que política é muito mais do que os estúpidos rótulos de "reaça" ou "comuna", direita ou esquerda, tucano ou petista. Política tem que ser mais que simples rivalidade, porque ninguém é dono da verdade.

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